Desde aquele insight que tive no evento em São Paulo, sobre o qual contei pra vocês no post anterior, decidi começar a me movimentar em outro sentido, não apenas como técnica e especialista em compras públicas, mas também como uma força a mais na propulsão das mudanças que são necessárias.
Dei o primeiro passo olhando pra fora, para o mercado privado, observando sua agilidade e as transformações pelas quais passa de tempos em tempos, como consegue se reinventar para poder evoluir. Claro que isso tem a ver com a liberdade pra se fazer o que se quer, sem dever nada a ninguém. Mas, reconheçamos, nesse meio, o fracasso pode repercutir de forma desastrosa e, ainda assim, as mudanças acontecem, porque é preciso.
Fui entender a noção de Gestão 4.0, um estilo de administração que permite que empresas interajam com seus clientes e trabalhem a partir das suas expectativas. Essa mudança de comportamento foi vista como necessária para fidelizar uma nova geração de consumidores, que tem acesso a um universo de produtos e serviços ao alcance de um clique. A Gestão 4.0 permite o surgimento de capacidades inovadoras e de novos modelos de receita. Avancei, então, para a noção de Indústria 4.0, considerada a Quarta Revolução Industrial e que, basicamente, tem a ver com a tecnologia mudando os processos de manufatura de produtos, a incorporação de inovações tecnológicas para aumentar a competitividade e a produtividade do setor. E, por fim, fui conduzida à ideia de Governo 4.0, as govtechs, smartcities, govlabs e a busca de tecnologias que melhorem o ambiente de negócios, ofereçam facilidades à população, produzam transformações econômicas e melhorem o desempenho do Estado na execução de suas finalidades.
Naturalmente, pensei na Compra Pública 4.0. Como subiremos o próximo degrau, que nos levará a melhores resultados? Quais práticas inovadoras mudarão nossa ideia sobre sermos eficientes e eficazes? Qual é o conceito de Compra Pública 4.0, suas diretrizes, seus pilares? Isso ficou martelando na minha cabeça algum tempo. De todo modo, estava claro que questões que dependem de alteração legislativa não eram o ponto.
Conversei com algumas pessoas, em especial com meu querido amigo Dawison Barcelos, um ser de inteligência e agilidade mental invejável. Reconhecemos, juntos, que a “versão” da Compra Pública não é a mesma em todas as organizações brasileiras e que esta é, então, a premissa fundamental. Isso me levou a concluir que: a) não dá pra colocar a inovação tecnológica no centro do conceito, esquecendo o que acontece nas “periferias”; b) inovação tecnológica faz parte do conceito de Compra Pública 4.0, mas não a resume e c) a Compra Pública 4.0 não depende da tecnologia, embora deva contar com ela. Aliás, talvez seja mais fácil começar a entender a Compra Pública 4.0 a partir do que ela não é, pois exemplos não nos faltam.
A fluidez de conceito me parece necessária ante as diversas realidades pois, assim, cada organização entenderá como avançar rumo a melhores resultados, desenhando a “sua” Compra Pública 4.0. A Compra Pública 4.0, então, seria sinônimo de transformação do status quo por meio de práticas de resultado. Mas, uma coisa é certa: a Compra Pública 4.0 tem a ver com um jeito novo de pensar problemas e soluções e com uma nova inteligência de negócio. E, essencialmente, com pessoas, com o Comprador Público 4.0.