Dias atrás, comprei um kindle. Depois de muito tempo duvidando que ele poderia substituir meus sagrados livros, cedi e, após duas semanas de uso, percebi que não vivo mais sem ele. Então, na semana passada, soube que a Alexa, a assistente virtual da Amazon, foi lançada aqui no Brasil em outubro, em português.
Entre mil e uma utilidades, ela faz compras por comandos de voz, uma aposta da gigante do e-commerce que deverá, a longo prazo, mudar as práticas de consumo. O mercado para esse produto é considerado ainda insipiente, mas a reputação assertiva da Amazon na antecipação de tendências parece reduzir drasticamente as chances de fracasso: segundo a Revista Exame, um estudo da consultoria OC&C Strategy Consultants de 2018 prevê que as compras por voz chegarão a 40 bilhões de dólares em 2022 nos Estados Unidos e no Reino Unido, contra 2 bilhões de dólares em 2017. Achei uma sacada sensacional, especialmente pelo impacto que ela terá nas compras dentro da própria plataforma. Não comprei. Ainda. Mas, pensei: como seria se, na compra pública, o agente responsável tivesse um assistente de voz para chamar de seu?
Pesquisar, comparar produtos e preços, encontrar similares e, até, verificar reclamações existentes em sites específicos, sem necessidade de aprender todo um processo, entrar e sair de páginas, esperar o sistema responder, digitar vários comandos… No final de 2019, a Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento antecipou que a plataforma da dispensa eletrônica poderá vir a ser um marketplace. Se tudo correr bem, isso nos colocará em outro nível de eficiência administrativa. A torcida é grande. Então… E se?? Vai que?? Claro que não faço a mínima ideia do que isso significa tecnicamente, mas, para quem conhece as dificuldades, me parece totalmente coerente, especialmente à luz do Princípio da Eficiência. Aliás, já faz tempo que penso, cá com meus botões, que o uso da tecnologia da informação está transformando o conteúdo desse emblemático vetor da atuação administrativa…
Antes que alguém diga, então, que estou “apenas” divagando, afirmo: é preciso divagar. Entender como a tecnologia presente em nossas vidas privadas pode ser incorporada ao serviço público é o nosso desafio. Divagar, avaliar e, se for o caso, descartar. Precisamos exercitar o raciocínio nesse sentido, constantemente, sem ceticismo ou pessimismo. O universo das compras públicas não é uma realidade paralela e a tecnologia precisa – e vai – invadir essa praia. Como e quando, depende do esforço investido.